Bate papo acadêmico

"FINAL DE MUNDIAL DE CLUBES DA FIFA SANTOS 0 x 4 BARCELONA: uma discussão baseada em elementos de comportamento motor"

Sem sombra de dúvida, um assunto alvo de muito debate no final de 2011 foi a final do mundial de Clubes Santos e Barcelona. Na verdade o jogo, reuniria um time de estrelas, constituído pelos melhores e mais caros jogadores do mundo e a equipe do Santos, ex-time de Pelé e, talvez hoje, o mais fidedigno representante do futebol brasileiro. O jogo também reuniria a grande estrela do futebol mundial, o Messi, e a grande relevação dos útlimos tempos do futebol brasileiro, o Neymar.
O jogo foi iniciado e o que se viu foi uma hegemonia da equipe do Barecelona em campo. O time deteve mais de 75% de posse de bola e aplicou uma goleada de quatro a zero no Santos. Aparentemente, o Santos foi passivo, apenas assistiu è equipe do Barcelona. O resultado e o jogo contrariaram os prognósticos, que embora colocassem o Barcelona como favorito e virtual campeão, não se imaginava que a diferença de desempenho entre as duas equipes fosse tão grande.
Ao término do jogo, foram muitas as críticas ao time de Santos, ao jogador Neymar e ao técnico Muricy Ramalho. Nem o presidente do Clube foi polpado. Alguns argumentos foram recorrentes, como "o Santos não teve raça", "os jogadores do Barcelona são individualmente muito melhores que o Santos".
Entrentanto, alguns aspectos que têm sido discutidos no GECOM, merecem destaque no que tange a este jogo. Em primeiro lugar, vale compreendermos que o jogo de futebol, e nem qualquer outro, não se limita a um conjunto de partes, a uma mera adição de peças isoladas. Jogar corresponde a um arranjo muito maior de peças que se influenciam mutuamente. Pensando numa visão sistêmica, "o todo é muito maior que a soma das partes". Assim, jogar futebol é muito mais que reunir uma série de fundamentos, mas criar um mecanismo de interação que surge entre esses elementos orientados a um objetivo específico que pode se modificar de acordo com determinadas especificações espaciais e temporais. Tomando como base essa linha de raciocínio, um time corresponde a um arranjo das partes, também orientadas a um objetivo. É similar ao que acontece com uma música, o tom e o arranjo dos instrumentos é que garantem a harmonia, a beleza e não os instrumentos isoladamente. Assim, uma equipe de futebol depende do arranjo/ da interação que surge entre as partes.
Ao contrário do que muitos dizem ou têm dito, o futebol brasileiro não perdeu sua beleza. Talvez não tenhamos avançado tanto em termos táticos como o futebol internacional, por historicamente termos sempre atribuído um grande valor às partes, comos fundamentos e as habilidades isoladas dos jogadores, em detrimento dos esquemas. Isto aconteceria até mesmo pela grande oferta de jogadores, determinada em grande parte pela monocultura do futebol.
Assim, as equipes européias que não dispunham tanto de recursos humanos, que ao longo da história tivessem que criar arranjos/formas de jogar mais sofisticadas, que tivessem que pensar em formar/preparar crianças para o desporto, tendo em vista suas necessidades. A forma do jogar do Barcelona tem como pressuposto o método global, que não limita ao valor da parte, mas a interação entre os jogadores, tomando como base o sistema de jogo. As crianças, como foi o caso do Messi, são treinadas assim, o time joga detendo o que se tem, como dizem alguns amigos, o que se pode considerar de mais valioso no futebol, a bola.
Temos muito a aprender com eles!
Obviamente, esse assunto vai continuar dando o que falar e o GECOM não se omite dessas discussões. No nosso grupo, um projeto que é desenvolvido em parceria com o Grupo de Estudos "Corpo: Teatro da Memória", tem por objetivo investigar as implicações das diferentes formas de se preparar um grupo de crianças numa situação de aprendizagem do jogo, com o seu desempenho no jogo. Julgamos que seja interessante acompanhar.


DESAFIOS PARA A ÁREA DE COMPORTAMENTO MOTOR

Reconhecemos dois grandes desafios para as pesquisas na área de Comportamento Motor.

O primeiro deles é justamente o de aproximar o foco de investigação dos estudos para problemas que atendam às necessidades da intervenção profissional, como acontece nas áreas da Educação Física, Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional.
Outro desafio é o de dialogar com outros níveis de análise sobre o Movimento Humano. Mais especificamente isto aconteceria por meio da aproximação com pesquisas/estudos que se orientam por visões/abordagens diferentes para o estudo do movimento humano/motricidade humana. Em especial o nosso grupo de estudo, durante o ano de 2011 procurou estreitar relações com outros grupos de pesquisa como o Grupo de Estudos sobre o Desenvolvimento da Ação e Intervenção Motora (GEDAIM - USP) e com o Grupo de Estudos "Corpo: Teatro da Memória" (UNICID) e Grupo de Estudos sobre Fisiologia e Metabolismo da Atividade Física (UNICID).

Essas aproximações renderam algumas idéias de pesquisa que poderão se concretizar em projetos de pesquisa a serem desenvolvidos a partir do ano de 2012. A idéia é contribuirmos para um entendimento mais amplo sobre o fenômeno movimento humano, numa perspectiva que oriente a intervenção profissional.

Roberto Gimenez